quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Lembraças



  Lembra-me o tempo, que escoa como água entre os dedos das mãos, imagens, momentos, que se eternizam como a frieza do gelo ou fogo. Eu era ainda um adolescente. Um menino que sonhava ser um monte de coisas, inclusive, jogador de futebol. E por isso, lá naqueles lindos idos, tínhamos em Jaguaribe, um time. Freqüentemente jogávamos contra o Estrela do Mar, Colégio Afonso Pereira. 7 de Setembro, o Duque de Caxias...Como líder do time,acertei um jogo além fronteiras. Faltava-nos desfiar um outro bairro  - que poderia ser Cruz das Armas, Torre, Roger... – mas o América do Varjão, me instigava. O  América era um time com formação infanto-juvenil e amador; um time de segunda Divisão no esporte paraibano. O nosso, treinava num campinho, no final da Floriano Peixoto, com garotos na idade entre doze e quinze anos.
   Morávamos em Jaguaribe, íamos à missa das sete trinta das manhãs do domingo, senão Frei Albino Schenneider (tio da atriz alemã, Rommy Schenneider) na nos permitia a entrada para os jogos, lá no Estrela do Mar – para assistir os jogos ou jogar. Tínhamos ruas calçadas, esgoto, um bairro fantástico. Não havia sentimento de diferenças sociais. Mas, o Varjão, me fascinava, quando à noite, eu ouvia a batida frenética dos tambores da Umbanda ou as emboladas dos cantadores do Coco. Também, ficava torcendo, para que aquele ônibus, superlotado, na descida do ABC para Varjão, não faltasse o freio; e na subida, não faltasse a força. Lá do final da Floriano, eu avistava o Rio Jaguaribe. Segundo Jpsé Marcelo, divisor de territórios, também, no comportamento, no jogo, no drible. Sabíamos que enfrentar o América infanto-juvenil, era uma tarefa que ia além de um simples resultado. O time do Varjão era valente. O campinho de pouca grama mas, com dimensões e áreas demarcadas, ficava hoje, onde está essa magnífica praça de esportes, perto da Igreja e S. Francisco. Me chamou a atenção, a estrutura do bairro. Um desencanto que se misturava ao som dos tambores,que soavam noite adentro, com a água que escorria, não de maneira cristalina, por entre os dedos das mãos. Mas, de uma deformidade suja,rastejando devagar num esgoto a céu aberto, por entre os dedos dos pés. Século XX, água encanada, casas sem fossa, esgoto com destino a tratamento... tão perto e tão distante! Só o esporte nos unia. Aquela garotada confiante,aquela vontade de matar a sede com convencimento, com amor.

O jogo terminou. Conseguimos um a zero, com um gol de craque, de Airton. Pra quê...? Não conformados com o resultado, nós saímos corridos “na pedra”, coisa fácil de se achar! Aquelas pedras de ferro, sabe, que se encontram em abundância na região do rio Jaguaribe. Jogamos, vencemos e...corremos.

  Hoje, venho diàriamente ao agora Rangel e, para tristeza minha, aquela 2 de Fevereiro, tão cheinha de água correndo à céu aberto, continua pedindo ao sol, que não faça chuva. Porque existe uma evolução fantástica, nesse bairro tão guerreiro, tão cheio de talentos, nas artes, nos espotes, na luta pela liberdade. Os emboladores de Coco, viraram rockeiros, funkeiros, hip hoqueiros, capoeiristas, artistas. O CRAC, bem defronte ao campinho do América, joga contra a violência das pedras do crack. Tão diferentes daquelas pedras que foram atiradas em nós e nem nos atingiram. O esgoto da 2 de Fevereiro é ainda à céu aberto. Uma rua, símbolo de um bairro, ligação direta do centro ao sul da capital. Não esconde. Mostra a sujeira que está soterrada, nos esgotos de outras tantas linhas de ligação interurbanas de João Pessoa.

Texto:Eudes Nazareno 
Postado Por: Edson Silva

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