segunda-feira, 8 de abril de 2013

O ACIDENTE

        O barulho súbito na roda da bike no encontro sinistro com aquele carro que surgiu ,como que, do nada, foi o início de uma experiência nunca antes por mim, vivificada.Um grito na queda,o rosto na areia quente,num chão doído e o braço quebrado,bem no cotovelo esquerdo!Os rostos das pessoas-algunas estudantes da escola José Lins do Rêgo,dois motoqueiros que fizeram parar o veículo atropelador aos gritos de"não corre não,anotei sua plaquinha",me fizeram voltar á tona e ver uns cincoenta metros,a figura de uma senhora,que no gesticular nervoso,tentava se explicar  aos rapazes, ou assim me parecia,o porquê da omissão de socorro-bem no início da Semana da Mulher."Quer que chame o Samu?", "Está se sentindo bem?","Mora perto daqui?"
   Foram perguntas de olhares desconhecidos,feitas num momento de transtorno  físico e distúrbio mental.Esforcei-me o quanto pude pra não transparecer a dor que sentia no braço,visivelmente torto.Mas o que eu queria mesmo era chegar em casa.O  mundo ficou estranho,eu não conseguia ouvir nada com harmonia,os carros pareciam enormes,os roncos dos motores alterados.Aos poucos fui me dando conta do tamanho da coisa,do inchaço,as pessoas tomando, cada qual,seu rumo,eu sem saber,no calor daquele fogo ,a dimensão,os caminhos por onde eu ia pecorrer.
     Alguns dias se passaram,minha mulher,tentava me convencer a procurar ajuda médica,mas ,eu que detesto me entregar,e com algumas gotas de arnica e massagens com gel,via desaparecer o inchaço mas,a dor voltou com força.Doía mais ainda o calcanhar direito,bastante inchado,quase impedindo um simples caminhar.Até que,aquele olhar meigo e convicente num "vamos fazer  um raio x",atravessou minha mente teimosa.Resultado:traumatismo no tornozelo e esfacelamento do de alguns ossinhos  do cotovelo-pior do que uma fratura exposta-mostrou o resultado-mais nitidamente confirmado por tomografia.Com o braço esquerdo paralisado,eu me sentia mais pela metade.Passei a imaginar, o quanto mundo,o mundo de cada um de nós,está tão mecanicamente funcional,até que uma peça se quebre,e aí voce passa a exercitar a mente,no sentido de fazer com que não se sinta assim tão impotente.Um simples afazer,faz com que voce,mexa com todas as pedras para o funcionamento do jogo, no tabuleiro.É,voce se sente num xadrez.Passa a exercitar a humildade,a reciprocidade,o altruismo aflora e as peças descobrem  novas maneiras de se engrenarem.Voce ver que nada existe de novo debaixo do sol.As flores do jardim,se abrem do mesmo jeito,o calendário,vai rolando os dias,na frieza dos números,nas digitais do relógio.A sua chamada parece ir cada vez mais para a caixa postal.Os corredores estreitos,longos,a brancura do assoalho e os espelhos nas paredes refletem silhuetas quebradas."Espelhos quebrado dentro de casa é azar"dizia os mais velhos,"nuca liguei quando era mais novo".Não isso é frescura,espelho quebrado é caco,azar é do espelho,que não pode mais refletir a realidade com ela é;não pode mais reflexo de um bom dia,ser.Mais uma Dipirona?
                         Plim-plim.........


Texto:Eudes Nazareno
Postagem:Milene Soares

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