segunda-feira, 1 de abril de 2013

VIA-CRUCIS



 
  Um homem de aproximadamente trinta anos,vaga trajando uma bermuda suja,deixando a mostra arranhões recentementes untados com PVPI e restos de sujeiras de um atropelamento,sem documentos,nem ente algum.O olhar vago,como a boca muda,parece não compreender a razão de estar ali.Uma vibração de cor escura se mistura ao éter,péssima circualção de ar e trilhões de bactérias invisiveis,fazem a "festa" na qual eu participaria  pela primeira vez,com um convite marcado-acidente.Súbito,parecia-me estar sendo projetado numa enorme  tela de tv 3D,com direito a odores,o que caracterizava,"ao vivo",mesmo!Vi-me deitado numa maca,ao longo de um corredor,braço esquerdo e perna direita,enfaixados,um comprimdo de dipirona,minha mulher ao lado,gente de toda qualidade-idade,preto,branco,sem-cor,sem sorriso e sem esperança,de uma solução, pelo menos paliativa. Gente que não podia estender um braço,acenar,gente que parecia mais múmias,onde a palavra doutor,poderia significar-para muito-Deus.tentei mudar de canal,pra ver se saia daquela reportagem policial,mas todos mostravam o mesmo programa.Me achei em hospitais de Recife,Porto Alegre,Natal,Maceió,Rio de Janeiro,Fortaleza,Manaus,Terezina....mas estava no Ortotrauma de Mangabeira,em João Pessoa.Tanto faz o apresentador ser Datena,Marcelo Rezende ou Samuca Duarte.Eu estava protagonizando um fato que acontece no dia-a-dia,em qualquer parte desse país.Sentindo na pele,o olhar dolorido da televisão,o descolorido de um verde-esperança bem ali nos leitos doentios de uma saúde á beira de um colapso.A pressa em desocupar uma daquelas macas,ao longo dos corredores,não acompanha o rítmo moroso dos atendimentos,nas enfermarias onde os espaços-leitos são pequenos e as equipes médicas,nanicas.A falta de medicamentos básicos;o não funcionamento de equipamentos de extremas necessidades como um Raio X ou (é luxo)um tomógrafo,resumindo numa resposta " tá quebrado",tudo isso aliado a absoluta falta de higiene dos sanitários e banheiros,me fez parecer um estranho no ninho.Voce já se imaginou comendo uam quentinha-arroz,feijão,carne, macarrão utilizando uma colher de plástico,que cairia muito bem,numa taça de sorvete,ou um pavê?E torça para que não se quebre a dita cuja,porque tem que se virar com as mãos.Depois de lavar,sem sabão,enxugar nas calças por falta de papel-toalha.E aí,veio a dormida,quer dizer "a hora do Espanto".Depois de passar um dia inteiro-como a maioria- sem poder se mexer direito,as luzes são parcialmente desligadas e...gritos na outra ala.Alguém drogado,filho do crack,camisa zero,é colocado em uma camisa de força,além das ataduras e gêsso e clama pela polícia,por socorro.Quando um bando de "serviço geral" passa com um raidinho de pilha...,"eu quero tchu,eu quero tcha...",ou então Benito de Paula cantando "tudo estar no seu lugar,graças a Deus,graças a Deus...no último volume.24 horas no Ortotrauma de Mangabeira,o Trauminha.Um inferno de onde fui transferido para um outro hospital por falta de agendamento para a realização de minha cirurgia no cotovelo esquerdo,demonstrado categoricamente através das imagens nítidas de uma tomografia,essas feitas,em uma clínica particular.
                                          (continua no próximo plim-plim)


       Texto: Eudes Nazareno
       Postagem: Milene Soares

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